Aos amigos a liberdade. Aos inimigos o gancho!

Autor:
Guto Camargo

Seção:
Ponto de vista

Publicado em:
25 de Janeiro de 2025

Tempo de leitura:
5 minutos

Aos amigos a liberdade. Aos inimigos o gancho!

Por: Guto Camargo

Marco Aurélio


Guto Camargo

.

Não é de hoje que a concentração de poder econômico combinado com a falta de regulação das big techs - e das redes sociais por elas controladas - causa apreensão entre estudiosos da política e da comunicação. Mas apesar de manipular o conceito de liberdade de imprensa e de opinião ao se favor as autoproclamadas empresas de tecnologia procuravam manter um certo verniz democrático e abertura ao diálogo público ao mesmo mesmo tempo que, na prática, se davam ao direito de excluir postagens publicadas nas redes sem dar satisfação ao autor. Agora, parece que a máscara caiu definitivamente.

“Atualmente eu estou no gancho. A tia Zucka me deixou de castigo até fevereiro por causa de um desenho onde uma moça aparece nua de perfil, mostrando somente os seios e segurando uma maçã, que é parte da minha série de PINAPES. Na mesma página há outras mostrando muito mais, mas cismaram com esta. E não temos como recorrer.”

Nei Lima

Convidas para uma audiência organizada pela Advocacia Geral da União (AGU) sobre a regulação das plataformas as empresas Alphabet (Google), Meta (Facebook), X (antigo Twitter), Tik Tok, Linkedin, Discord e Kwai não compareceram. A reunião, com os demais convidados, aconteceu sem as ilustres presenças no dia 22 de janeiro e o objetivo foi debater a moderação de conteúdo online, assunto que obviamente diz respeito aos fujões.

O tema da moderação é de extrema atualidade pois Zuckerberg acaba de anunciar nos EUA o encerramento do seu Programa de Verificação de Fatos, cujos reflexos no Brasil ainda não estão bem claros. Como se não bastasse, está hibernando no Congresso o projeto de lei 2630/20, conhecido como PL das Fake News, e também há o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal sobre alguns pontos do Marco Civil da Internet (lei 12.965) que foram questionados por diversos atores.

Como pode ser notado por qualquer um, estes assuntos dizem respeito a atuação direta das redes sociais, no entanto, as empresas boicotam o debate e apostam no confronto. As posturas assumidas publicamente por Mark Zuckerberg e Elon Musk em sua adesão entusiasmada ao governo ultraliberal de Donamd Trump apontam claramente no sentido de se contrapor a qualquer tentativa de regular as atividades da indústria da tecnologia e escancara sem muitas sutilezas um projeto de dominação e tutela sobre a esfera pública. A ideia aqui, obviamente, é impedir a participação efetiva do cidadão na definição dos rumos da internet: trata-se de um projeto político, além de econômico.

Vigilância sobre as postagens

A negação de qualquer forma de regulação é o pano de fundo da macropolítica que determina as ações das empresas a nível mundial, o que, no dia a dia, determina a participação individual de quem utiliza as redes sociais para se expressar ou apresentar seus trabalhos. Este é o caso dos desenhistas e humoristas gráficos que, com a diminuição do espaço da charge na imprensa tradicional, migraram para as redes sociais.

Episódios de censura das redes sociais sobre charges postadas por artistas se tornaram comuns ao longo dos anos, mas a tendência, dada esta nova conjuntura, deve se acentuar. Estamos prestes a testemunhar uma verdadeira batalha ideológica entre a concepção de liberdade de expressão e de imprensa e aquilo que muitos críticos, ironicamente, denominam de “liberdade de empresa”.

Foto

A charge censurada de Nando Motta (esq.) e as de Geuvar e Mário Sérgio; mesmo motivo, soluções gráficas particulares

Censurando ao bel prazer.

Um dos últimos exemplos deste controle exercido pelas redes sociais envolve o chargista Nando Motta que teve sua charge sobre Elon Musk retirada do Instagram sem alegação de qualquer motivo e, conforme afirma o desenhista, não é a primeira vez que isto ocorre. O gesto do milionário, de tão óbvio, inspirou charges semelhantes de vários artistas, a própria Revista Pirralha recebeu duas colaborações de diferentes artistas com o mesmo mote.

“O Instagram permite gestos e discursos nazistas (misóginos, homofóbicos e quetais), fazem parte da liberdade de expressão. Charge denunciando gesto nazista é ataque à liberdade de expressão, é isso”?

Bira Dantas

Fora dos padrões da comunidade

Depoimento Zepa Ferrer

Três anos atrás tomei um gancho meio bravo no FaceBook por causa de uma charge que foi considerada fora “dos padrões da comunidade”. Ela mostrava, em dois quadros, a mãe chamando o filho para o almoço, e, no segundo quadro, ele saindo do armário vestido com um uniforme nazista e dizendo “heil Hitler”.

Como a charge era obviamente contra os nazistas, no caso os bolsonaristas, das duas uma: quem denunciou é a favor do nazismo ou é muito burro e não conseguiu entender a piada. Isso se aplica ao burocrata do FaceBook também.

O problema é que, muito pouco democraticamente, a punição é irrecorrível. Uma outra vez, postei um meme, não da minha autoria, que apresentava uma foto logo depois da fakada em Bolsonaro, ele com a barriga à mostra sem uma gota de sangue cercado pelos seguranças, etc. A justificativa da punição era, pasmem, cena de sexo grupal!

Agora eu é que estou punindo o FakeBook. Ele ganha muito mais com meu trabalho do que eu com ele, aliás, só ganho curtidas…


Os diferentes significados do gesto nazista segundo Vasqs