Autor:
Redação
Seção:
Memória
Publicado em:
31 de Março de 2025
Tempo de leitura:
4 minutos

As capas dos oito números da revista O Bicho, lançada em março de 1975 pelo cartunista Fortuna
Quando os chargistas apostavam no Bicho
Por: Redação
O Bicho foi uma revista de HQB ("histórias em quadrinhos brasileiras, para adultos, de jovens para cima", como se definia no editorial de lançamento) que nasceu como um agregado do Pasquim.O primeiro número apresenta a revista como uma publicação da Editora Codecri tendo como diretor responsável Millor Fernandes e Fortuna como editor.
Lançada em março de 1975, O Bicho acaba de completar 50 anos e a publicação representa as histórias em quadrinhos naquele grupo de iniciativas que os estudiosos classificam como imprensa alternativa que marcou a década de 1970 fustigando a ditadura. Apesar de ser uma espécie de herdeira do movimento "underground" a revista tinha distribuição nacional em banca, uma equipe profissionalizada na produção e seu lançamento foi precedido de um número zero distribuído gratuitamente antes do lançamento oficia (imagem em destaque).
Apesar de ser ancorada na produção nacional o editor Fortuna não abria mão de publicar também grandes nomes dos quadrinhos internacionais, desta forma O Bicho apresentou ao público autores como Wolinski, Quino e Crumb,entre outros. Além disto a revista publicava a seção Registro HQB. onde convidava um autor para apresentar seus quadrinhos, neste espaço desfilaram artistas como Luís Fernando Veríssimo e suas cobras, Redi (Meia Dose),chegando a recuperar as tiras de O Capitão, um cangaceiro criado em 1962 pelo desenhista Max, pseudônimo do jovem Jaguar, companheiro do Pasquim.
Mas nem só de desenhos vivia O Bicho, havia grandes reportagens com importantes nomes da ilustração brasileira como Seth, Henfil (então nos EUA) e Luiz Sá, além das cartas dos leitores -- e seus desenhos -- os textos de Miguel Paiva como correspondente internacional baseado na Itália, apresentava a movimentação artística do setor na Europa.
Ao olharmos hoje as páginas de O Bicho nos damos conta da sua importância cultural ao nos depararmos com uma lista de grandes artistas do desenho gráfico brasileiro (veja lista abaixo), muitos faleceram, alguns trocaram os gibis pela publicidade ou outras tarefas, parte deles são hoje praticamente desconhecidos mas um bom grupo de jovens (à época) são hoje mestres veteranos, alguns, inclusive, emprestam seu talento para esta Revista Pirralha.
O Bicho segundo Crau
Maria Cláudia começou a publicar seus cartuns logo no primeiro número de O Bicho (de início era a única mulher no grupo até que chegou a Mariza), por isto passou a ser chamada de Crau do Bicho, quando foi morar em Ilha Bela assumiu o nome de Crau da Ilha, atualmente se encontra em Brasília e até o momento não incorporou o nome da cidade ao seu.
A seguir Crau apresenta uma linha do tempo com sua participação na revista.
- Bicho 1 – Meu primeiro material publicado.
- Bicho 2 e 3 – Não tive participação nesta edição.
- Bicho 4 – Apresentei um cartum em sequência influenciado pelo Feiffer e que foi inspirado em uma gravação com o Chico Anísio e a Hebe Camargo. O tema é que a gente precisa saber das coisas para construir um mundo ideal onde não se precise ficar sabendo das coisas.
- Bicho 5 – O Fortuna me convidou a ir trabalhar na redação no Rio, era na Codecri (editora do Pasquim), rua Saint Roman, participei da edição mas não publiquei nenhum trabalho.
- Bicho 6 – apresentei a HQ, Boca de Forno. Nesta altura o administrativo da Codecri avisou que não editaria mais O Bicho.
- Bicho 7 – Foi uma criação conjunta, tive participação intensa em todas as fases deste número, que saiu pela Edições Mil, uma editora criada pelo Fortuna.
- Bicho 8 – Eu e o Fortuna fizemos o roteiro de uma HQ baseada na canção “Chiquinho Azevedo, de Gilberto Gil (desenhada por Zeluco).
- Bicho 9 – Chegou a ser produzida com uma reportagem sobre o Zé do Caixão pois participei da entrevista, não sei se chegou a ser impressa e distribuída.
OS BRASILEIROS QUE PUBLICARAM EM O BICHO |
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1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7(*) | 8 | |
Adail | X | |||||||
Alberto Piauí | X | |||||||
Alcy | X | X | ||||||
Canini | X | |||||||
Chico Caruso | X | X | ||||||
Cláudio Paiva | X | X | X | |||||
Coentro | X | X | X | X | X | X | ||
Crau | X | X | X | |||||
Duayer | X | |||||||
Edgar de Souza | X | X | ||||||
Edson | X | X | ||||||
Fausto | X | |||||||
Fortuna | X | X | X | X | X | X | X | |
Geandré | X | X | ||||||
Guidacci | X | X | X | X | X | X | X | |
Jota | X | |||||||
Krisnas | X | |||||||
Laerte | X | X | X | X | X | X | X | |
Leo | X | |||||||
Lapi | X | X | X | X | X | X | X | |
Luiz Gê | X | X | X | |||||
Luscar | X | X | X | X | X | X | X | |
Manoel Viana | X | |||||||
Márcio Sidnei | X | X | X | X | X | |||
Mariza | X | X | X | X | ||||
Max (Jaguar) | X | |||||||
Michele | X | X | X | X | ||||
Molica | X | X | X | X | X | |||
Nani | X | X | X | X | X | X | X | |
Nicoliêlo | X | |||||||
Nilson | X | |||||||
Parrot | X | X | X | X | X | |||
Paulo Caruso | X | X | X | |||||
Racy | X | X | ||||||
Redi | X | |||||||
Rico | X | |||||||
Santiago | X | |||||||
Sizenando | X | |||||||
Vilachã | X | |||||||
Verissimo | X | |||||||
Zeluco | X | X | X | X | X | |||
Zé | X | |||||||
(*) Publicou uma história em quadrinhos conjunta (Fantóxico) feita por Fortuna, Cláudio Paiva, Coentro, Nani, Zeluco, Crau, Guidacci e Mariza |