Elifas Andreato; nosso desenhista da MPB!

Autor:
Redação

Seção:
Desenhistas

Publicado em:
29 de Março de 2022

Tempo de leitura:
3 minutos

Elifas Andreato; nosso desenhista da MPB!

Por: Redação

Elifas Vicente Andreato nasceu em Rolândia (PR) em 22 de janeiro de 1946) e faleceu em São Paulo dia 28 de março aos 76 anos em decorrência de complicações de um infarte. Elifas - que foi ilustrador, artista gráfico e pintor - foi o maior capista brasileiro da era do vinil, chegando a ilustrar mais de 360 capas de Long Plays (LP) para grandes nomes da Música Popular Brasileira como Chico Buarque, Martinho da Vila, Elis Regina, Clementina de Jesus, entre muitos outros. Sua produção na indústria do disco teve início em 1973 com o LP Nervos de Aço, de Paulinho da Viola.

Ao chegar a São Paulo Elifas foi trabalhar como aprendiz de torneiro mecânico e começou, de maneira autodidata, sua carreira nas artes gráficas em 1967 na Editora Abril, onde atuou como ilustrador nas revistas Cláudia, Quatro Rodas, Realidade, Veja e Placar. Ele se transfere para a Abril Cultural onde ocorre seu primeiro contato mais aprofundado com a área musical quando foi responsável pelo projeto gráfico da coleção História da Música Popular Brasileira, fascículos que eram vendidos em bancas e que se tornaram um grande sucesso. Na chamada imprensa alternativa nos anos de 1970 suas ilustrações podiam ser vistas, principalmente, nos jornais Opinião, onde foi editor de arte, e na revista Argumento. Elifas também fez capas de livros e cenários para teatro.

Algumas das famosas capas de discos ilustradas por Elifas Andreato para os grandes nomes da MPB

Outra faceta importante da arte de Elifas pode ser vista em sua atuação no campo político; ele chegou a integrar os quadros da Ação Popular - AP (organização clandestina que se opunha ao regime militar) para a qual, em 1972, fez a capa do Livro Negro da Ditadura Militar editado clandestinamente, além de ter ilustrado jornais, cartazes e peças para entidades que lutavam contra a ditadura e por direitos humanos. Nesta área sua produção mais difundida está ligada à resistência democrática que se seguiu ao assassinato do jornalista Vladimir Herzog em 1975 por agentes da ditadura quando ele se encontrava preso para prestar depoimento. Para homenagear o colega assassinado o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) em parceria com outras entidades criou o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humano em 1979, devido a importância adquirida pela premiação tornou-se necessário a criação de um troféu que simbolizasse o prêmio o Sindicato e foi escolho a proposta de Elifas Andreato. Até hoje a escultura é entregue aos ganhadores. Sua ligação com a memória de Herzog é ainda mais forte por ter pintado o quadro 25 de outubro (data da morte de Herzog), inspirado na Guernica de Picasso como um protesto contra a violência da ditadura militar. O quadro foi doado pelo artista ao acervo do Sindicato dos Jornalistas onde fica em exposição permanente no auditório Vladimir Herzog na sede da entidade.

Em sua carreira rica e variada ainda consta a função de diretor editorial do Almanaque Brasil de Cultura Popular, lançada em 1999, que era entregue a bordo das aeronaves da TAM, distribuída em bancas e que virou programa de televisão nas TV Cultura e TV Brasil. A publicação circulou até 2014 e só deixou de ser produzida quando a companhia aérea, principal apoiadora do projeto, retirou o patrocínio.

O diretor de teatro Elias Andreato, irmão do ilustrador, escreveu nas redes sociais uma frase que serve perfeitamente para a despedida do artista: "Que o país que ele imaginou, possa ser colorido para todos! Que a política do seu traço seja homenageada SEMPRE!"

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Foto de abertura: Elifas Andreato na praça Vladimir Herzog em frente ao Memorial em homenagem ao jornalista e que reproduz em mosaico o quadro 25 de Outubro (foto de André Freire, acervo do SJSP).