Autor:
Redação
Seção:
Desenhistas
Publicado em:
23 de Junho de 2023
Tempo de leitura:
4 minutos
Mottini em seu atelier (foto pessoal publicada em um antigo Facebook feito em homenagem ao artista)
Cavalos desenhados por Mottini eram soberbos
Por: Redação
O centenário de nascimento de João Batista Mottini (20/06/1923 - 30/03/1990), um artista praticamente desconhecido pelas novas gerações de leitores de histórias em quadrinhos, só não foi completamente ignorado pela mídia pois no Rio Grande do Sul, terra do artista, o jornal Zero Hora publicou um texto sobre ele. Outro que não deixou a data passar despercebida foi o também gaúcho e cartunista Santiago que lembrou o artista em comunicado a Revista Pirralha onde declara: "o grande desenhista João Mottini, pra mim um dos dez maiores desenhistas de quadrinho realista do mundo, trabalhou em Buenos Aires ao lado de Hugo Pratt ( também incluído entre os dez). A todos os jornalistas brasileiros que o entrevistavam Pratt pedia notícias do Mottini" e, completando sua avaliação sobre o conterrâneo afirma que "os cavalos de Mottini eram soberbos", o que pode ser comprovado na reprodução de um dos faroestes que o artista desenhou para a editora inglesa Fleetway (clique na imagem para ampliar).
"Salinas era um desenhista muito correto e de estilo parecido com o de Mottini, mas Mottini era mais solto e descontraído. Salinas foi para os EUA quando chegou a grande crise das editoras de Buenos Aires e fez sucesso por lá, nesse momento Mottini teve a péssima ideia de voltar a Porto Alegre onde nunca foi valorizado. Morreu pobre em 1990 de um câncer de estômago aos 67 anos no meio de uma família de evangélicos."
Santiago
Um dos trabalhos do artista em sua volta ao Brasil
A seguir a Revista Pirralha reproduz o texto de de Rodrigo Rosa, com autorização do autor, lembrando a data.
O centenário de João Mottini
Rodrigo Rosa (*)
Ontem foi o dia que marcou os cem anos do nascimento de um grande mestre dos quadrinhos e da ilustração, um dos nossos primeiros desenhistas brasileiros a ter uma carreira internacional: o gaúcho João Baptista Mottini. Nascido no dia 20 de junho de 1923, em Santana do Livramento, Mottni começou sua carreira no final dos anos 1930, na então poderosa Livraria e Editora Globo de Porto Alegre. Sob a tutela do mestre alemão Ernest Zeuner e convivendo com artistas como João Fahrion e Edgar Koetz, Mottini ilustrou clássicos como Dom Quixote, Os Três Mosqueteiros e Robin Hood.
Em 1948, com 23 anos João foi tentar a sorte no poderoso mercado editorial de Buenos Aires. Pouco depois, levou para lá a esposa, Ivone, e iniciou sua família. Foi na Argentina que Mottini teve os melhores anos de sua carreira, ao fazer parte do que hoje se conhece como a “era de ouro dos quadrinhos portenhos”. Sua obra mais conhecida, a série de aventura Aurelio, el audaz foi publicada durante oito anos na revista Patoruzito, que tinha a impressionante tiragem de 300 mil exemplares semanais. Mottini também foi o capista oficial da revista por cinco amos. Como professor atuou na famosa Escuela Panamericana de Artes, ao lado de grandes nomes como Hugo Pratt, Alberto Breccia e José Luis Salinas.
Com um estilo clássico e um talento assombroso para desenhar cenas de movimento – mas, especialmente, para fazer cavalos -, no final dos anos 1950 Mottini foi chamado pela editora inglesa Fleetway para fazer quadrinhos de Buck Jones, Billy the Kid, e outros faroestes que foram distribuídos mundialmente.
De volta ao Brasil em 1962, João Mottini participa da Cooperativa Editora e de Trabalho de Porto Alegre (GETPA), uma iniciava de fazer uma indústria de HQs com temáticas brasileiras, impulsionada pelo governo de Leonel Brizola. Os trabalhos de maior destaque de Mottini na CETPA foram as séries Os Crimes que Abalaram o Rio Grande e Os Abas Largas, publicados no jornal Última Hora.
Mottini também fez ilustrações para a publicidade sendo o criador da Ipirela, garota propaganda dos postos Ipiranga que foi uma febre nacional Para a mesma empresa, também fez lindas ilustrações para calendários com temas da cultura popular brasileira. Também merecem destaque as ilustrações feitas para dois anuários da Samrig: Profissões, Passos e Pregões, de1880 e No Tempo dos Farroupilha, de 1983, que contava com textos de Luiz Antônio de Assis Brasil e foi amplamente difundido em audiovisuais na rede escolar estadual,
Artista versátil, Mottini também pintava quadros em acrílica, realizando retratos de personalidades como Erico Verisimo e Josué Guimarães, mas principalmente pinturas com cenas gauchescas. No final dos anos 1080, João ensaiava um retorno as histórias em quadrinhos e tinha uma encomenda da revista argentina Skorpio. Mas esse trabalho ficou acabado, devido à morte do artista em março de 1990 as 66 anos, em razão do agravamento de um câncer.
Capas ilustradas por Mottini em seu período na Argentina
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(*) Rodrigo Rosa é ilustrador e editor da Figura Editora. Foi amigo de João Mottini e prepara para este ano um livro em homenagem ao artista. Este texto foi publicado originalmente na coluna Almanaque Gaúcho, de Ricardo Chaves, no jornal Zero Hora (Porto Alegre) em 21 de junho de 2023 pág. 32.