Negreiros foi o capista moderno de São Paulo

Autor:
Redação

Seção:
Desenhistas

Publicado em:
23 de Março de 2023

Tempo de leitura:
4 minutos

Auto caricatura do artista que ilustrava uma de suas redes sociais

Negreiros foi o capista moderno de São Paulo

Por: Redação

Roberto Negreiros Faria Júnior  faleceu em 22 de março de 2023 e a notícia de sua morte repentina causou espanto entre os artistas pois não havia nenhuma informação pública sobre um eventual problema de saúde uma vez que a família inicialmente não divulgou a causa que, posteriormente, soube-se, foi um infarto fulminante. O artista nasceu em 1955, na cidade de São Paulo e foi cartunista do Jornal da Tarde nos anos 1980/1990 e ganhador do 51.º Prêmio Esso de Jornalismo em Criação Gráfica, Categoria Revista de 2006 e destacou-se como capista, notadamente das revistas semanais da editora Abril; Veja, Veja São Paulo, Veja Rio, Playboy, VIP.  Também ilustrou inúmeros livros infanto-juvenis.

O mestre Roberto Negreiros por Nei Lima

Triste saber da morte do mestre Negreiros. Nos anos 80 cheguei a assinar a revista Status e guardava as últimas páginas com suas charges desenhadas a mão e coloridas a lápis de cor. Eu queria imitar sua técnica de colorir.
Alex Ponciano

Negreiros construiu sua carreira principalmente nas editoras de São Paulo e possuía sólida formação técnica, formado em Produção Visual Gráfica, Artes Plásticas pela Faculdade Armando Álvares Penteado (FAAP) e jornalismo pela  Alcântara Machado. Seu estilo peculiar com marcado pelo uso equilibrado das cores em um traço leve, bem humorsdo e moderno fez dele um dos maiores ilustradores brasileiros e seu traço se adapta perfeitamente às grandes  publicações internacionais como The New Yorker e congêneres.


Algumas capas ilustradas por Negreiros em diferentes editoras

No começo de carreira seus desenhos pareciam feitos com mão de ferro, com a evolução foi ficando cada vez mais leve até atingir um grau de elegância e graça muito original. Outra particularidade eram as caracterizações dos personagens, muito engraçados. Nunca soube quais foram suas influencias, mas é certo que conhecia tudo.
Fernando Vasqs


Uma personagem discreta

Negreiros foi uma pessoa reservada. Quem busca informações sobre ele na internet não vai encontrar muita coisa sobre sua vida pessoal, quase nenhuma imagem de familiares ou amigos, basicamente, o que consta em suas redes sociais, é que era casado com Anderson Barros. O que encontramos é muita ilustração, que é o que importa para um artista.

Em 2014 a Mandacaru Designer publicou três pequenos livros com o título “Com a palavra os ilustradores” sendo um deles escrito por Roberto Negreiros (os outros se referiam a Orlando Pedroso e Ale Kalko – no caso ilustradora). Enquanto os demais relataram passagens e vários períodos de suas vidas, Negreiros se limitou às suas lembranças da primeira infância: abrangendo do nascimento (começando ainda no berço quando ganhou um ursinho de pelúcia de um amigo da família que guardou a vida inteira) até suas primeiras professoras no Externato Paulista.

Por ele ficamos sabendo que nasceu após Getúlio Vargas ter se suicidado e que seu Alberto, o amigo da família que trouxe o ursinho, chegou à maternidade todo molhado pelos jatos d’água que a polícia usava para dispersar uma das inúmeras manifestações pró-Getúlio que se seguiram a sua morte (o que significa que ele veio ao mundo depois de 24 de agosto de 1954, sendo que deve ter sido logo no início de 1955, ano que consta genericamente em suas redes sociais).

Pelo livro ficamos sabendo que seu pai era farmacêutico e sua mãe dona de casa. Enquanto a mãe era filha única, seu pai tinha nada menos que 11 irmãos e irmãs e que a família morava nas imediações do largo São José do Maranhão, que ele não esclarece em qual dos bairros desta gigante cidade se localiza, mas que deve ser aquele que fica no Tatuapé, zona leste de São Paulo.

Em suas reminiscências, Negreiros apresenta nomes e histórias de um rol de tias e tios e vizinhos de bairro, mas, curiosamente, de seus progenitores ficamos sem saber os nomes, pois são sempre “pai” e “mãe”, o que, convenhamos, já é o suficiente para qualquer filho. Desta forma a narrativa termina com ele ainda criança, sem uma única linha sobre sua adolescência, vida adulta ou profissional, o que julgou dispensável, pois discretamente ele traduzia o mundo pela arte, a parte mais importante de sua vida.

Texto escrito por Guto Camargo