Os gibis ocupam o seu espaço nas eleições

Autor:
Redação

Seção:
Quadrinhos

Publicado em:
19 de Setembro de 2024

Tempo de leitura:
6 minutos

Os quadrinhos e os personagens produzidos para as campanhas eleitorais informam o eleitor e divertem as crianças. (foto: Jeivilson)

Os gibis ocupam o seu espaço nas eleições

Por: Redação

A história dos quadrinhos no Brasil começa no século XIX através de Angelo Agostini com seu Nho Quim e atravessa todo o século XX; de uma forma de arte inicialmente rejeitada as histórias em quadrinhos foram conquistando espaço não só no mundo do entretenimento como também na esfera pública. Dada sua capacidade de cativar o leitor com a união da imagem e texto ajudando na compreensão da mensagem os gibis e seus personagens vem sendo utilizados em cartilhas promocionais e educativas há muito tempo e participam também as eleições.

Para abordar o papel das histórias em quadrinhos nas campanhas eleitorais a Revista Pirralha conversou com um verdadeiro especialista na arte de utilizar o gibi em um processo político, o quadrinhista Bira Dantas e duas de suas “personagens” a deputada federal Juliana Cardoso e a candidata a vereadora em São Paulo, Vanilda Anunciação (reprodução ao lado).

O mestre dos quadrinhos eleitorais

Ao longo de décadas, Bira produziu dezenas de gibis para diversas candidaturas para todos os cargos

Depoimento Bira Dantas

Desde 1979 minha família estava engajada na criação do Partido dos Trabalhadores, meu irmão mais velho, Antônio Libânio, estava envolvido na criação de núcleo do PT no Tatuapé e me chamava para as reuniões de imprensa do partido, foi quando conheci Cid, Alípio Freire e Chico Malfitani, Zé Américo. Meu irmão apoiava as candidaturas de Sérgio Santos pra deputado estadual e Genoino pra federal. Fiz charges pras duas campanhas e comecei a colaborar com o Jornal dos Trabalhadores.

Mas minha primeira HQ para uma campanha eleitoral foi feita em 1982. Numa das reuniões de imprensa conheci Israel, acho que era candidato estadual por Guarulhos, que me pediu uma HQ de quatro páginas. Ele não usaria foto, queria só desenho. Fiz as artes em tamanho A3, o formato dos originais do gibi Os Trapalhões, onde eu atuava na época.

Neste ano eu fui contratado pelos Químicos SP, onde fiz o gibi do Chico Ácido e Maria dos Remédios (Sindicato somos nós). Eu aprendi que a luta sindical e política eram uma só, cada uma com suas particularidades, assim pude colaborar com a luta dos trabalhadores em suas pautas específicas: mulheres, negros, LGBT, saúde, cultura, educação, lazer, sindicalização, privatização.

Nesta época me aproximei do grupo interno no PT chamado Poder Popular e Socialismo (PPS ou Poposo), nascido das lutas do movimento Popular de saúde da Zona Leste. Entre seus líderes estavam Roberto Gouveia, Adriano Diogo, Carlos Neder, Eduardo Jorge (que foi eleito deputado estadual em 82) e se candidatou para deputado federal em 1986. Nesta eleição que fiz o primeiro gibi propriamente dito: colorido, com roteiro e cores no estilo Artcomix que produzia quadrinhos no Brasil para o mercado estadunidense.

Em 1988 tivemos eleições municipais. Eu estava de mudança pra Campinas e bolei um panfleto em quadrinhos de quatro páginas, preto e branco, para o Adriano Diogo (ele se elegeu vereador e Erundina prefeita). Ofereci o gibi a todos candidatos a vereador do Poposo, só precisavam me procurar pra adaptar o conteúdo com a chamada do vereador e prefeito da cidade. Foi um sucesso.

Em Campinas fiz quadrinhos pra campanha – também vitoriosa – de Jacó Bittar e José Roberto Miccoli, também do Poposo. Daí pra frente foram muitas charges, caricaturas e quadrinhos para candidatos da região, Durval (líder metalúrgico), Jesus e muitos outros. Adriano Diogo usou quadrinhos em todas as suas candidaturas e a Juliana também.

"Desde 2008 quando me candidatei e me elegi pela primeira vez fiz uso dos quadrinhos. O gibi foi um meio fácil e rápido para chegar ao entendimento da população e a novidade virou uma febre. De lá pra cá repetimos não só nas campanhas, mas também durante os mandatos em momentos politicamente importantes falando de coisas sérias com humor e sátiras através das caricaturas. O meu primeiro gibi, onde fui personagem, chegou por meio do Bira Dantas que me ajudou, através dos quadrinhos, a ir direto da periferia para a Câmara Municipal de São Paulo e 14 anos depois para a Câmara Federal.
Uma coisa que sempre me chamou a atenção é que o gibi é um meio de incentivar as crianças, elas ficam vidradas nas imagens e passam paro o texto e isto estimula a leitura infantil. Quando apresentei a proposta de tornar oficial o Dia do Quadrinho Nacional em 30 de janeiro de cada ano foi com o intuito de fazer o reconhecimento público e oficial dos quadrinhos como arte. Tenho certeza que essa oficialização abrirá portas para políticas públicas e apoio para muitos artistas."

Depoimento Juliana Cardoso

Em 2002 foi a vez de eu fazer o gibi com a maior tiragem entre todos: “Lula a história de um vencedor”; 800 mil exemplares espalhados pelo Brasil. Aí a linguagem dos quadrinhos se mostrava moderna e arrojada, como a eleição vitoriosa do primeiro operário a ser presidente do Brasil.

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Em 2024 um novo gibi de campanha

Os quadrinhos continuam presentes na propaganda eleitoral pois os candidatos sabem que se trata de uma forma de comunicação criativa, eficiente e rápida. Na eleição para a Câmara de Vereadores deste ano na cidade de São Paulo, Bira Dantas se propôs a ajudar novamente uma mulher da periferia e dos movimentos sociais a se eleger para a Câmara Municipal criando um novo gibi de campanha; trata-se de Vanilda Anunciação (candidata pelo PT nº13 333) que se compromete a lutar por políticas públicas para a cultura na área dos quadrinhos e por isso tem o apoio de vários chargistas.

“Há uma produção fantástica feita por artistas visuais, chargistas, desenhistas e escritores nas nossas periferias, que sabem contar histórias a partir de perspectivas potentes, mas quem nem sempre encontram fomento e incentivo, como editais específicos para setor na Secretaria Municipal de Cultural. Queremos ao menos 3% do orçamento da cidade para a Cultura. Com isso, poderemos ampliar e diversificar os setores que recebem incentivo do município, criando programas específicos para chargistas, desenhistas e roteirista de quadrinhos. As nossas histórias merecem ser contadas e lidas em todo canto.”

Depoimento Vanilda Anunciação

Fazendo o novo com pouco recurso


Na década de 1980 a propaganda dos candidatos não contava com o arsenal tecnológico e a verba dos dias atuais, mas os gibis, impressos em preto e branco, já estavam presentes também nas pequenas cidades do interior. Acima parte de um gibi distribuído na campanha eleitoral na cidade de Socorro (SP) desenhado por Guto Camargo, outro colaborador da Revista Pirralha.