O Pablo que é praticamente o nosso Escobar

Autor:
Redação

Seção:
Charge & cartum

Publicado em:
30 de Agosto de 2024

Tempo de leitura:
6 minutos

O bené com a letra M é um dos símbolos da candidatura do "influencer" (ilustração digital de Guto Camargo)

O Pablo que é praticamente o nosso Escobar

Por: Redação

A Revista Pirralha reuniu sua equipe para tratar da candidatura do Plabo Marçal para prefeito da cidade de São Paulo. O candidato "coach" conseguiu, segundo as últimas pesquisas de intenção de voto, encostar na preferência popular com os dois candidatos tido como principais; Guilherme Boulos (PSOL, apoiado pelo presidente Lula) e Ricardo Nunes (MDB e atual prefeito). Nesta página publicamos também uma análise crítica do momento eleitoral feita por Guto Camargo que avalia a candidatura de Pabo Marsal não como uma novidade, mas um modelo que se repete em todas as eleições, e logo em seguida as charges dos artistas de Pirralha que sempre fazem a crítica dos últimos acontecimentos do mundo político.

A crise liberal criando monstros

Texto: José Augusto (Guto) Camargo

Plabo Marçal, por muitos visto como um candidato surpresa nesta eleição para prefeito de São Paulo, vem crescendo nas pesquisas e embolando a disputa com os dois candidatos tidos como principais: Guilherme Boulos (PSOL coligado com o PT) e Ricardo Nunes (MDB e atual prefeito da cidade). Para a parcela politizada da sociedade chama a atenção que, a julgar pela sua biografia e pelo comportamento assumido nos primeiros debates da campanha, trata-se de uma pessoa intelectualmente despreparada e moralmente desqualificada para o exercício de um cargo público.

Sua postura é agressiva, suas ideias retrógradas, seu partido (PRTB) é visto como legenda de aluguel onde o presidente, Leonardo Avalanche, é acusado coação, ameaça de morte, fraude e suborno pela ex-vice presidente do próprio partido. Para completar o quadro o seu plano de governo registrado no TSE apresenta algumas esquisitices como o uso de teleféricos como meio de transporte público e a construção do edifício mais alto do mundo em São Paulo.

E como se isto não bastasse, Pablo Marçal foi condenado em 2010 como integrante de uma quadrilha de golpistas digitais. Sua fortuna, a maior dentre todos os candidatos, também causa certo espanto pois como está registrada no TSE é de mais de 169 milhões e envolve participações em mais de 20 empresas, aplicações em bancos e bens imóveis. O candidato se apresenta como empresário mas é popularmente conhecido como “coach”, vendedor de curso e “influencer”.

O fato é que a candidatura de Pablo Marçal não representa um novo fenômeno eleitoral tampouco é consequência de uma falha no sistema político brasileiro, pelo contrário, é o resultado lógico das contradições do modelo político-partidário do país e dos limites da democracia liberal burguesa. A nossa república conta com 29 partidos registrados no TSE, a esmagadora maioria sem qualquer identidade programática não passando de legendas mantidas para abrigar interesses de políticos ou grupos que fazem da política negócio mostrando na prática a diferenciação assinalada por Max Weber entre aqueles que vivem “para” a política e o que vivem “da” política.

Além do mais, o modelo federativo brasileiro tem sua representatividade distorcida pois não segue rigorosamente a distribuição populacional dos estados, ou seja, algumas regiões contam com um número menor de deputados eleitos do que teriam direito em relação à população existente, ou dito de outra maneira, o voto de alguns eleitores, proporcionalmente, vale menos em certos estados do que em outros.

Some-se a isto a necessidade que a democracia liberal tem de se legitimar frente as massas através do voto ao mesmo tempo que a alta burguesia precisa, para manter os privilégios alcançados como classe dominante, impor limites ao poder das maiorias impedindo qualquer alteração significativa neste estado de coisas (o que explica a centralidade do marketing, da manipulação da informação e agora das redes sociais em detrimento do debate político). Esta lógica explica o surgimento de candidaturas que se apresentam como populares e antissistema quando na verdade tem o objetivo de legitimar o sistema, o que fazem abertamente depois de eleitos. Neste parágrafo cabe, como ilustração, a conhecida frase de Tomaso di Lampedusa: “Se quereremos que tudo fique como está é preciso que tudo mude”.

Destas contradições obviamente resultam problemas práticos; um deles responde pelo nome de presidencialismo de coalizão. O termo se tornou popular no mundo político no início da década de 1990 e desde então é usado para explicar os acordos eleitorais e administrativos que o Executivo tem que fazer com o Legislativo para aprovar leis e governar com certa tranquilidade. Aquilo que parece ser o estado natural do fazer político, a negociação entre as partes, degenerou no Brasil – dada as circunstâncias parcialmente referidas acima – para uma verdadeira competição entre os poderes estabelecidos que, inegavelmente, contribuiu para o clima de crise administrativa que culminou no afastamento da presidente Dilma, as emendas PIX, onde parlamentares podem transferir recursos do orçamento para estados e municípios segundo seus interesses políticos beneficiando suas bases ou mesmo correligionários, é outra criação da "coalizão" pois o manejo do orçamento é de competência do poder Executivo, além de tudo, o processo é feito sem muita transparência.

Outro resultado desta "disfunção" é que a medida em que os deputados, voltados aos seus interesses imediatos, se mostram incompetentes (ou desinteressados) nos grandes desafios regulatórios exigidos pela sociedade contemporânea e o Executivo se vê obrigado a negociar num verdadeiro varejo político todos os projeto estruturais que pretende implantar o Judiciário (que não depende de voto popular para se legitimar) assume um ativismo político que não lhe cabe em um regime que prima pela divisão de poderes.

Desta crise geral da representação eleitoral e democrática é que brotam candidatos como Pablo Marçal que não é o primeiro fruto estragado desta cesta. Bolsonaro tem a mesma origem e se quisermos retroceder ainda mais podemos invocar a triste memória de Fernando Collor de Melo em sua fugaz passagem pela presidência da República entre 1990 e 1992 além de casos de outros candidatos que vestiram o mesmo figurino . Em se tratando da eleição para deputado federal ou estadual a lista é enorme, fiquemos aqui apenas com o exemplo do deputado Tiririca, recordista de votos em 2010..

A triste notícia é que se mudanças institucionais não acontecerem vamos passar eleição após eleição exorcizando o fantasma do fascismo e elegendo a cada legislatura um conjunto de deputados ainda mais limitado que o anterior.

Enquanto isto, cabe aos chargistas dar um grito de alerta.

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Mário Sérgio


Jota Camelo


Geuvar


Aurélio


Geuvar


Jota Camelo


Geuvar


Milton de Faria


Guto Camargo


Nei Lima


Nei Lima


Nei Lima


Aurélio


Geuvar


Geuvar


Jeff Portela


Jeff Portela


Jeff Portela


Bira Dantas


Paulo Capilé


Cival

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