Ignácio Justo, piloto de quadrinhos e aeronaves

Autor:
Colaboradores

Seção:
Memória

Publicado em:
20 de Agosto de 2024

Tempo de leitura:
3 minutos

Quadrinhos e aviões foram as paixões de Ignácio Justo (montagem a partir de foto de Facebook do autor)

Ignácio Justo, piloto de quadrinhos e aeronaves

Por: Colaboradores

O mestre dos quadrinhos e da ilustração Ignácio Justo morreu aos 92 anos no dia 17 de agosto. Nascido em São Paulo em 12 de fevereiro de 1932, Benedicto Ignácio Justo de Siqueira foi um daqueles integrantes da era de ouro dos quadrinhos nacionais que se articularam em torno da editora Continental (depois Outubro). Inicia a publicação de suas obras em 1959 e ao longo da década seguinte desenhou aventuras, quadrinhos de terror e de guerra, gênero no qual se especializou  (veja ao lado reprodução de uma de suas capas).

A fama de grande ilustrador de HQs de guerra veio a partir de 1964, quando a Editora Taika emprestou o nome de um seriado que fazia sucesso na TV e criou a revista Combate. Nesta revista Justo pode se deleitar em desenhar uma de suas grandes paixões; os aviões (imagem ao lado). Aliás, além de artista foi também piloto civil e colecionador de miniaturas de aeronaves, tornando-se profundo conhecedor do tema.

Nos anos de 1970 continuou a carreira como desenhista, ilustrador e professor que formou uma nova geração de quadrinhistas e a partir dos anos 2000 teve sua importância reconhecida com o Troféu HQMix (2023), Angelo Agostini (2006) e pelo lançamento de sua biografia Ignácio Justo – Pilotando Quadrinhos, pela Editora Criativo.

A seguir a Revista Pirralha publica dois depoimentos lembrando o mestre

Fernando Vasqs

Estive na casa do Justo – quase vizinho, a 5 quadras da minha – uma vez, levado pelo Jodil. Mostrou-nos seus originais, um pacote imenso, um tesouro , guardado num quartinho nos fundos da casa. Depois mostrou o que andava fazendo na época: alugava vídeos, escolhia uma cena – paisagens, figuras do faroeste…- copiava numa tela e pintava a óleo. A casa estava cheia deles.

Foi um artista apaixonado. (De quebra, comemos bolo feito pela esposa e ouvimos o filho tocar piano).

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Bira Dantas

Eu conheci Ignácio Justo em um lançamento da Ópera Graphica, organizado por Franco de Rosa e Carlos Rodrigues, na livraria Comix, em Sampa. Foi no início dos anos 2000. Estavam lá Collonnese, Zalla e Shimamoto lançando e autografando seus álbuns em Quadrinhos. E eu, verdadeiro pinto no lixo, revendo mestres como Shima (eu o conhecera no encontro de Quadrinhos de Araxá em 1987).

Mas, também estava lá o notório e talentoso Ignácio Justo, grande piloto no ar e na prancheta. Na verdade, eu já o conhecia do livro A Técnica do Desenho que ganhei de Jayme Cortez em 1977, suas aulas de composição e story telling já tinham me convencido de sua maestria em reproduzir aviões de guerra, pilotos e suas indumentárias. Foi daí que surgiu minha tentativa de garimpar suas revistas “Combate” publicadas pela editora Taika.

Anos depois, encontro num sebo o Almanaque Disney de 74 com a HQ “O correio aéreo nacional” com belos desenhos retratando esta instituição importantíssima. Graças ao Guia dos Quadrinhos, venho a saber que o roteiro era de Ivan Saidenberg e os desenhos eram de Carlos Edgard Herrero e Ignácio Justo. Nesta HQ, desenhada a quatro mãos, Zé Carioca conta a Zico e Zeca a história da instituição aérea. Os papagaios são desenhados por Herrero, enquanto os outros personagens são traçados por Ignácio em seu traço documental.

Eu o reencontrei algumas vezes mais, em 2006 quando recebeu, da AQC, o merecido Troféu Angelo Agostini de Mestre do Quadrinho Nacional. Em 2019, no Sketchcon III promovido pela editora Criativo, lá estava ele. Conseguiu pilotar seu aviãozinho de guerra pela pandemia de COVID que se abateu sobre nosso país e ceifou quase 700 mil vidas, metade delas facilmente evitáveis, era só ter a vacina.

As editoras Criativo e GRRR! (de Marcio Baraldi) tiveram a brilhante ideia de publicar sua biografia ilustrada (Pilotando Quadrinhos), Múmia (com Gedeone Malagola) e Karate (com Minami Keize), que deveriam estar nas estantes de qualquer aficionado por Quadrinhos brasileiros. Eu saúdo o mestre e espero que esteja pilotando nuvens com Angelo Agostini, Jayme Cortez, Henfil, Daniel Azulay, Paulo Caruso, Ziraldo e Ykenga entre os passageiros.