Autor:
Redação
Seção:
Desenhistas
Publicado em:
24 de Setembro de 2021
Tempo de leitura:
8 minutos
Ota foi o super-herói da revista Mad no Brasil
Por: Redação
O cartunista, editor e jornalista Ota (Otacílio Costa d'Assunção Barros) foi encontrado morto em seu apartamento na Tijuca, Zona Norte do Rio nesta sexta-feira, 24 de setembro. Nascido em 4 de julho de 1954, Ota foi o editor da versão brasileira da revista Mad publicada no país desde o início da década de 70 por diferentes editoras: Vecchi, Record, Panini e Mythos, ele foi responsável por praticamente todas as edições até seu fechamento em 2016. O desenhista também atou em outras empresas como a Ebal, Jornal do Brasil e Folha Dirigida. Em todas as revistas que dirigiu sempre fez questão de abrir espaço para desenhistas nacionais.
O cartunista Nilson, seu amigo de longa data, comentou; "Que trágica ironia, ele que deu serviço para tanta gente morreu desempregado... a última vez que publicou ma grande imprensa foi no JB em 2006 graças ao Ziraldo". outro colega de traço, Bira Dantas afirmou que Ota contava com muitos apoiadores na vaquinha virtual e tinha vários projetos em andamento: "continuava a mil", conclui.
Ota criou personagens de aspecto popular como os Id Otas, Bibi Polar e vários outros, atualmente estava trabalhando de maneira independente - comercializando suas publicações com as dificuldades naturais de todo artista nestas condições - e também procurava bancar suas produções através de vaquinhas virtuais. O artista era um grande colecionador de quadrinhos e, ultimamente, vendeu vários de seus exemplares para ajudar nas finanças.
Os vizinhos notaram que o cartunista não era visto há cinco dias, sua ausência, inclusive, havia sido notada pelos conhecidos no bar onde almoçava diariamente. Os bombeiros foram acionados e após arrombarem a porta o encontraram morto. A morte do artista de 67 anos foi comunicada aos amigos e colegas por sua irmã, a causa da morte não foi divulgada, mas, segundo amigos, ele andava se queixando de dores e inchaço nas pernas. O enterro foi realizado no cemitério jardim da Saudade .
Nota oficial do Sindicato dos Jornalistas Profissionais Rio
E PERDEMOS O OTA
Formado pela ECO-UFRJ, o jornalista e cartunista Ota (Otacílio Costa D’Assumpção e Barros) dominava cinco idiomas e sempre foi considerado um gênio. Seu traço inimitável era carregado de auto ironia, uma vez que fazia de si próprio sua personagem, sempre com duas moscas voando sobre sua cabeça.
Ota foi encontrado morto em seu apartamento na Tijuca. Vizinhos estranharam a sua ausência por cinco dias. Os bombeiros foram chamados e arrombaram a porta. Ainda não há informação sobre a causa da morte. Ota tinha completado 67 anos em 4 de julho.
Realizou trabalhos em muitos veículos como editor e quadrinista. Publicou várias revistas criadas, bancadas e distribuídas por ele próprio. Amava gibis e era dono uma coleção preciosa, que acabou tendo que vender aos poucos para aguentar o rojão das sucessivas crises financeiras - a gangorra nada divertida que aflige os trabalhadores de comunicação, mais ainda no momento atual.
Foi da EBAL, da Vecchi, do JB, da Folha Dirigida, e colaborou com o Lidão, jornal editado pelo nosso Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro. Mas foi a Revista MAD o seu maior sucesso: durante 34 anos editou mais de 300 exemplares da revista de humor que fez a cabeça de uma geração (ou mais de uma).
Não se limitava a desenhar e escrever. Ota montou uma equipe de coloristas e foi o restaurador e tradutor das Revistas Luluzinha e Recruta Zero, pela Ediouro, e também dos álbuns do Asterix da Editora Record.
Investiu e lançou revistas de novos personagens, como a Garota Bipolar, O Rei está Nu, Relatório da Terra Plana entre outras, que vendia em eventos de quadrinhos, onde era incensado pelos fãs - ele adorava seus fãs!
Ota era solteiro, morava sozinho, mas estava sempre acompanhado - quando não se isolava para criar suas histórias. Era figura popular naquele quarteirão da Tijuca, onde tomava sua cervejinha com amigas e amigos, e se atualizava das novidades.
O jornalista deixa irmãos e sobrinhos, muitos amigos e uma legião de admiradores.
A Diretoria Colegiada do SJPMRJ e a diretoria da Fenaj se solidarizam neste momento tão triste com todos que o admiravam e amavam. Como nós.
Nota publica dos familiares e amigos
Familiares e amigos publicaram um texto no Facebook do artista esclarecendo a situação de sua morte que a Pirralha reproduz a seguir.
RESPEITEM O LUTO DE FAMILIARES E AMIGOS PRÓXIMOS
Muitos conheceram o Ota personagem ou o Ota amiguinho em eventos, bares, termas, espeluncas em geral, lugares que a gente mal pode imaginar quais foram. Mas poucos o conheceram de forma realmente íntima e podem falar com propriedade sobre o Otacílio. Se fossem checar com ele a narrativa que envolve o desfecho da última semana ele pontuaria com um típico: “não é bem assim”.
Além disso, infelizmente alguns repórteres na pressa de dar o furo cometem erros, sensacionalizam manchetes, divulgam informações equivocadas e pouco se importam com o impacto dessas atitudes.
Portanto, lamentavelmente diante de especulações de pessoas que deviam estar preocupadas com as boas lembranças, devidas homenagens e legado, é preciso fazer alguns esclarecimentos para que enfim nosso luto possa ser respeitado:
A causa do falecimento foi um infarto dormindo. Existe um laudo comprovando isso. Ota se queixava de pernas inchadas, chegou a ir em um médico mas não deu prosseguimento a exames e tratamentos. Quem realmente conheceu ele bem, sabe que só teria uma forma de resolver isso: dopá-lo com um boa noite cinderela e levá-lo a força compulsoriamente. Esse ato heroico também geraria críticas de abutres e desavisados. Muitas pessoas tentaram convencer ele que era preciso buscar tratamento mas não rolou. O médico falou que ele precisava parar de comer gordura e comida de bar, complicado não é mesmo? Não foi por falta de tentativa.
Ota não estava na “pindaíba”. Os problemas financeiros fizeram parte do final de sua vida sim. Era um artista em um país que não valoriza essa categoria como deveria. O mercado editorial em crise também não é novidade e isso, infelizmente, o afetou nos últimos anos. Mas ele seguiu investindo em seus projetos e viveu de seu trabalho até o fim. Completou mais de 50 anos de carreira, uma marca para poucos. Sua administração financeira era peculiar e colocaria qualquer influenciador de finanças no chinelo. A dramaticidade era um grito de socorro sim, mas é falso que o Ota morreu na pindaíba. Ota estava orgulhoso de conseguir pagar todas as suas contas, apesar dos altos e baixos.
Ota não foi abandonado pela família. Em seus últimos anos de vida, viveu no apartamento que era de sua mãe com o consentimento de todos os quatro irmãos. Ota optou por viver em isolamento e foi respeitado. Tretas familiares todo mundo tem e com ele não foi diferente. Tudo ali foi respeitado, inclusive as interpretações que ele externava de “abandono”. Houve um cuidado em não forçar contatos que o estressaria, mas abandonado ele nunca foi. Sua irmã conversou com ele duas vezes recentemente, deu parabéns, compartilharam lembranças, tudo na boa. Tramas familiares em novelas são sempre muito complexas e não cabe a ninguém especular ou querer saber detalhes de questões particulares como essas. E a família é grande.
Ota era uma pessoa criativa, cheia de energia e viveu intensamente. Amava a vida e colecionava amigos (além de gibis).
O Ota não passou fome, não foi abandonado, estava ativo, cheio de planos e projetos e morreu de infarto dormindo. Qualquer um que fale o contrário, fala sem propriedade ou legitimidade, se baseia em fragmentos, desabafos característicos da sua oscilação de humor e um foco errado de uma energia que deveria ser utilizada em homenagens. E não são essas pessoas que cuidaram das partes que ninguém quer cuidar para organizar objetivamente o que é necessário quando alguém parte.
Aos que tinham projetos em andamento, tenham a certeza que faremos o possível para dar prosseguimento ao que estava sendo feito. Mas respeitem que o ritmo de quem perdeu um ente querido é diferente de quem pensa objetivamente em algum projeto.
O perfil Ota Assunção, que se tornará um memorial, a página Ota Comix (com X!!!) e o perfil no Instagram @ota.mix são os únicos canais legitimados a falarem oficialmente. Faremos tudo que estiver ao nosso alcance para preservar a memória do Otinha da melhor forma possível.
Respeitem o luto de familiares e amigos próximos.
As homenagens desenhadas
Veja alguns vídeos-entrevistas com Ota
- As HQs europeias na Editora Vecchi
Foto da abertura retirada do Facebook do artista.