Autor:
Redação
Seção:
Desenhistas
Publicado em:
4 de Março de 2022
Tempo de leitura:
4 minutos
Uma festa para o aniversariante Jaguar
Por: Redação
Todos aqueles que apreciam o humor gráfico já ouviu falar no jornal alternativo O Pasquim que fez história durante a ditadura militar que por aqui grassou após o golpe de 1964, e, se conhece O Pasquim, conhece o Jaguar. Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe nasceu na cidade do Rio de Janeiro exatamente no dia 29 de fevereiro de 1932 – uma segunda-feira de um ano bissexto – e, portanto, acaba de completar 90 anos.
Jaguar publicou seu primeiro cartum na revista Manchete em 1952 e, a partir daí, deslanchou a carreira nas revistas Senhor, Pif-Paf, Revista da Semana, Revista Civilização Brasileira, nos jornais Última Hora, Tribuna da Imprensa, Correio da Manhã até que em 1969, no dia 26 de junho, apareceu nas bancas no primeiro número de O Pasquim, tabloide que entraria para a história da resistência democrática à ditadura e que rendeu, inclusive, a partir de novembro de 1970 três meses de prisão para ele e outros envolvidos com o jornal.
Mais do que um chargista colaborador, Jaguar foi um dos fundadores do jornal (ao lado dos jornalistas Sérgio Cabral e Tarso de Castro, e outros chargistas), criador do nome do jornal e da mascote da publicação; o ratinho Sig, de Sigmund Freud. O desenhista foi o verdadeiro motor da publicação pois ao longo dos anos, mesmo com a saída de seus parceiros e as crises financeiras, sempre esteve à frente do projeto. A última edição foi publicada em janeiro de 1991.
E como se não bastasse isto, Jaguar é um dos responsáveis por outro ícone do Rio de Janeiro; a Banda de Ipanema, bloco que desfilou pela primeira vez no carnaval de 1965. Neste empreendimento contou com a ajuda de outros amigos, entre eles, Ziraldo, que também integrou os primeiros anos de O Pasquim.
Jaguar conquistou respeito e admiração de gerações de desenhistas graça ao seu traço moderno e seu humor livre, o que fez Paulo Francis, no prefácio do livro Hay gobierno? (publicado por Jaguar, Claudius e Fortuna em 1964, meses depois do golpe militar) a escrever: “no melhor Jaguar existe o prazer purificado do humor pelo humor”.
Por isso, para celebrar seus 90 anos a Revista Pirralha reuniu alguns de seus colegas de humor gráfico para relatar momentos inesquecíveis que passaram ao lado do mestre Jaguar.
Jaguar noventão!
Fausto
Quando fui seu parceiro
Jaguar sempre foi muito engraçado e bom astral. Eu trabalhava no jornal O Dia e Jaguar editava A Notícia no andar abaixo do meu. Ele tinha uma coluna de humor no jornal com participação de outros cartunistas, em uma ocasião mandei um desenho em preto e branco de um diabo falando sobre o bandido Leonardo Pareja. Quando vi a publicação o trabalho estava colorido. Fui na redação pegar o meu original e vi que tinha sido colorida com guache pelo próprio Jaguar que também me deixou um bilhete elogiando o cartum. O bilhete virou peça de colecionador com direito a enquadramento fixado na parede.
André Barroso
Jaguar faria 90 anos este mês, mas como neste ano o mês de fevereiro não tem dia 29, fica pro ano que vem, pois ele é bisexto!
Nei Lima
O dia que impressionei o Jaguar
Eu tinha 18 anos quando fui inquirida por uma roda dos notáveis, entre eles o Jaguar. Eu vinha de uma aventura mochileira pelo norte do Brasil e havia registrado impressões subjetivas em desenhos. No centro da roda, me sentia o próprio bicho no zoológico. Eles me perguntaram muitas coisas, viram a pasta com os trabalhos, se entreolharam e mencionaram o Fortuna!
O Jaguar me explicou: “É que o que você tem aí não tem a ver com a linha editorial do Pasquim. Mas pode procurar o Fortuna em São Paulo. Ele tá editando uma revista que tem a ver com isso”.
Foi camarada, ainda que parecesse incrédulo.
Meses depois o Fortuna mostrou as matérias que seriam apresentadas no novo número da revista O Bicho para o grupo do Pasquim. E o Jaguar ficou horrorizado com o final da minha história Boca de Forno, na qual as mulheres – em reação à paixonite dos homens por um fogão sensual – invadem a liquidação procurando pilões adequados às suas necessidades. Para não provocar, cheguei até a mudar um termo antes de ir pra gráfica.
Pois é, ninguém imagina que o Jaguar – logo o Jaguar! – pudesse escandalizar-se com as artes duma pirralha…
Crau
Não perturbe, cartum pintando!
Guto Camargo
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Foto de abertura: Nei Lima (esq.) ao lado do Jaguar (dir.) na abertura de uma exposição coletiva organizada pela ABI no Centro Cultural da Justiça, no centro do Rio (acervo Nei Lima).