Autor:
Redação
Seção:
Desenhistas
Publicado em:
25 de Outubro de 2022
Tempo de leitura:
5 minutos
Ziraldo mineiramente chega até os 90 anos
Por: Redação
O filho mais velho de dona Zizinha e do Seu Geraldo, nascido em 24 de outubro de 1932, foi batizado na igreja de Caratinga (MG) como Ziraldo, uma junção dos nomes dos pais. Certamente um dos mais importantes e influentes artistas gráficos da segunda metade do século XX, Ziraldo saiu de sua cidade aos 16 anos para se dirigir ao Rio de Janeiro onde começou a publicar profissionalmente nas revistas da época; volta depois de dois anos para Minas Gerais, começa a atuar em propaganda e retorna ao Rio de Janeiro onde se estabelece definitivamente e completa agora 90 anos, fazendo jus a uma série de homenagens.
O jovem artista passa a década de 1950 criando seus trabalhos a partir da influência da obra de Steinberg, Andrés François e Millôr Fernandes e chega ao início dos anos de 1960, época marcada pelo nacional desenvolvimentismo dos governos Juscelino Kubitschek e João Goulart quando se torna um dos participantes da experiência brasileira de criar uma indústria nacional de quadrinhos na qual se lançaram os desenhistas de sua geração da qual, pelo menos um de seus integrantes, Maurício de Souza, triunfou.
Neste embate sua participação se deu com o lançamento do Pererê (outubro de 1960 pela O Cruzeiro, a maior editora da época). Os roteiros giravam em torno das aventuras de um esperto saci e seus amigos (bichos e pessoas) e abordavam aspectos da cultura popular, o que, certamente, era ancorado na memória de sua infância em Caratinga. Segundo o pesquisador Joaquim da Fonseca, o termo cartum (neologismo a partir do inglês cartoon) foi criado por Ziraldo na edição de fevereiro de 1964 no gibi do Pererê, em um movimento sintonizado com a política nacionalista do período (1).
Apesar do sucesso, coincidentemente ou não, o gibi é interrompido pelo editor em 1964, ano do malfadado golpe militar que terminaria por interromper não só as experiências nacionalista das HQs como também praticamente toda a cultura brasileira; cinema, teatro, artes plásticas... O golpe final da incultura civil militar se daria em 1968 com a decretação do AI-5 e da censura oficial que impedia a livre manifestação do pensamento crítico e da liberdade criativa.
Sem ele talvez eu nem existisse como cartunista. No Pererê Ziraldo mostrou todas as brincadeiras infantis brasileiras, em cada número ele catalogava uma. Ele registrou o anedotário brasileiro.
Nilson
Ziraldo, que começara a década como um talentoso ilustrador se tornaria nos anos 60 um afiado e experiente chargista político, principalmente quando entra em cena o Pasquim (junho de 1969) que faz história na imprensa alternativa e na oposição à ditadura. Assim, nas décadas seguintes Ziraldo se consolida como como um dos grandes da charge política e também do cartum comportamental (com destaque nos anos 70 para a Supermãe, publicada na revista Feminina Cláudia).
Outro marco na carreira de Ziraldo viria a partir de1980 quando, reza a lenda, ele cria exatamente na data de seu aniversário o Menino Maluquinho que vira livro, gibi, filme e desenho animado (sua primeira criação voltada para a infância acontecera em 1969 com a publicação do livro Flicts). O Menino Maluquinho inscreve definitivamente o nome de Ziraldo entre os Maiores autores de literatura infantil do Brasil.
O novo século encontra Ziraldo em plena atividade, escrevendo, desenhando e sendo homenageado em vários países ate que em 2018 ele sofre um acidente vascular cerebral que, se não chega a comprometer totalmente suas funções motoras o incapacita para o desenho e para o trabalho. Assim, depois de tantas décadas de atividade artística ele se vê obrigado a aceitar a aposentadoria, ou quase, uma vez que acaba de estrear neste mês de outubro uma nova série do Menino Maluquinho, a primeira animação brasileira produzida pela Netflix.
Ziraldo e o meu apartamento
Ali pelo início dos anos 80 eu morava de aluguel e meu contrato estava no fim. Tinha me inscrito numa destas cooperativas que construía e vendia apartamentos financiado pela CEF, se eu desse uma boa entrada poderia mudar logo para o apartamento novo e as parcelas caberiam no meu salário de professor da rede estadual e de chargista do PASQUIM, além de outros jornais, mas o problema era a entrada.
No dia seguinte o Ziraldo me liga do nada e pergunta se eu queria pegar um trabalho pois ele não tinha tempo faze-lo. O contratante era Wagner Nascimento, preto e candidato a prefeito em Uberaba, cidade mineira bastante racista e famosa pela criação de gados zebu . Na época o sucesso musical era a canção " FUSCÃO PRETO ". Para depreciar o Wagner apelidaram-no de " FUSCÃO PRETO ", só que isto tornou-o ainda mais popular. Minha missão era criar uma identidade visual para a sua campanha. Caricaturei o Wagner com o rosto em forma de capô de fusca. FUSCÃO PRETO se transformou em ícone da campanha. O Wagner venceu a eleição para prefeito, nos tornamos amigos, ganhei um bom dinheiro, comprei meu apartamento e eu minha família somos eternamente grato ao Ziraldo.
Ykenga e Ziraldo, membros imortais da Academia Brasileira da Cachaça, em um dos encontros no Rio de Janeiro |
Ziraldo pelos chargistas
Alex Ponciano
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André Barroso
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Caó
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Diego Novaes
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Flávio
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Nei Lima
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Renato Peters
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Ykenga
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1000ton
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Mário
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(1) Joaquim da Fonseca. Caricatura, a imagem gráfica do humor, Artes e Ofícios Editora, Porto Alegre, 1999, página 26.
Foto de abertura: Divulgação (autoria não creditada)