Autor:
Redação
Seção:
Memória
Publicado em:
22 de Março de 2022
Tempo de leitura:
5 minutos
Mulheres, cartuns e quadrinhos agitam sec. XXI
Por: Redação
A presença feminina vai adquirindo cada vez mais importância no mundo dos quadrinhos e cartuns. Com o raiar novo século aprofunda-se a presença das mulheres nas narrativas gráficas, muitas vezes se aproveitando da internet que ganha influência e se populariza; as editoras comerciais passam a publicar no país as histórias em quadrinhos de tons feministas que fazem sucesso lá fora, dentre as produções estrangeiras podemos destacar Fun Home da cartunista norte americana Alison Bechdel publicada no Brasil em 2006 e Persépolis, da iraniana Marjane Satrapi publicada em 2010. Isto, somado a presença das super heroínas da Marvel e DC que integram o universo "nerd" e o mainstream da cultura pop, vão criando uma verdadeira onda que serve de incentivo para a produção das artistas brasileiras.
Surgem iniciativas que vão dando visibilidade à produção feminina nos quadrinhos e no humor gráfico. Em Belo Horizonte em 25 de outubro de 2014 acontece o 1º Encontro Lady‘s Comics – Transgredindo a representação feminina nos quadrinho; outro momento importante é a criação em 2011 em Piracicaba – por iniciativa da organização do Salão Internacional de Humor – da mostra Batom, Lápis & TPM direcionado a mulheres cartunistas, caricaturistas e ilustradoras, amadoras ou profissionais (ver salão AQUI).
Esta presença mais aguda das mulheres se configura, por exemplo, na realização do Troféu Angelo Agostini, a mais tradicional premiação brasileira dedicada aos quadrinhos. A edição de 2020 traz, como salientam os organizadores, a presença de mulheres em sete das 11 categorias do prêmio, quebrando o recorde de 2019, quando mulheres foram premiadas em seis categorias. Nesta edição os destaque foram as quadrinhistas; Rose Araújo, Mary Cagnin, Laura Athayde, Fabi Marques, Anita Costa Prado e da publicação Mina HQ (ver premiação AQUI).
O outro grande prêmio da área de quadrinhos no Brasil, o HQ Mix, em sua edição sobre os melhores de 2020, confirma a forte presença das mulheres neste setor; a grande vencedora foi Ana Luiza Koehler, autora do álbum Beco do Rosário, que ganhou quatro dos principais prêmios; desenhista, arte finalista, colorista e o de melhor edição nacional (ver premiação AQUI).
As quadrinhistas brasileiras que ocupam seu espaço no mercado comercial têm trazido a problemática feminina para os gibis. Alguns nomes desta nova tendência são: Bianca Pinheiro (Mônica Força para Maurício de Souza Produções além de quadrinhos autorais como Dora, Alho Poró, Nas Dobras do Mundo e Meu pai é um homem da montanha); Fefé Torquato (a responsável pelo viés feminista que a Tina assume na graphic novel Respeito, também da Maurício de Souza Produções - mas ela também é autora da alternativa Gata Garota). Algumas ocupam, inclusive, espaço no mercado internacional como Cris Peter que é colorista dos personagens da DC Comics e da Marvel. Tudo isto sem contar as que veiculam suas obras na internet e utilizam o sistema de financiamento coletivo para a viabilizar de suas produções.
Um marco neste processo de crescimento da presença feminina nos quadrinhos, área historicamente dominada por desenhistas homens, foi o surgimento da revista As Periquitas em 2014 que reuniu gerações de artistas em uma experiência coletiva de empoderamento feminino, bem alinhada com o espírito identitário do novo século. Ao lado de desenhistas veteranas como Ciça e Mariza estavam as jovens Cláudia Kfouri, Natália Forcat, entre outras. No total, a revista reuniu "20 periquitas" em um livro-revista de 96 páginas que apresenta, inclusive, uma longa entrevista a cartunista Laerte.
O NASCIMENTO DAS PERIQUITAS - A ideia de reunir mulheres cartunistas em uma publicação foi de Maria Cláudia França Nogueira, a “Crau” - ou Crau da Ilha, uma vez que vive em Ilha Bela desde 1977. A cartunista e artista plástica avalia que As Periquitas serviu como uma espécie de ponte entre várias gerações, tempo e lugares. A artista avalia que a arte das mulheres foi mudando ao longo deste tempo e conclui que as novas gerações tem uma linguagem própria; "não sei se a charge, o cartum e os quadrinhos são as mesmas coisas hoje". O fato importante é que As Periquitas foi um marco na história do cartum brasileiro e várias de suas participantes, muitas ainda na ativa, foram responsáveis pela abertura do campo profissional na ilustração e quadrinhos para as mulheres desenhistas de hoje.
Na terceira década do século XXI as mulheres conquistaram espaço, respeito e reconhecimento no mundo dos quadrinhos, apresentando seus trabalhos na internet e publicando obras impressas, em todos os gêneros e estilos. Se nas histórias em quadrinhos a presença das mulheres aumentou consideravelmente desde os tempos pioneiros de O Tico-Tico, na charge a situação não é das melhores, pois, neste caso, a perda de espaço do cartum e da caricatura no jornalismo impresso atinge homens e mulheres, mas, isto é outra história...
Foto de abertura: ilustrações enviadas por cartunistas mulheres para a revista Pirralha (que acabou herdando participantes de As Periquitas); 1 - Clarissa Mileo, 2 - Natália Forcat, 3 - Crau da Ilha, 4 - Velha Cosme e 5 - Nana. |
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Esta é a terceira e última publicação de uma série sobre as mulheres cartunistas que a Revista Pirralha está publicando. Veja a 1ª parte AQUI e a 2ª AQUI.