Geandré, a ovelha negra que deixa o campo

Autor:
Redação

Seção:
Desenhistas

Publicado em:
18 de Julho de 2022

Tempo de leitura:
3 minutos

Geandré, a ovelha negra que deixa o campo

Por: Redação

Além do talento, a simpatia e a gentileza são as outras características mais lembradas quando os colegas se referem a Geandré, cartunista, jornalista, escritor, ilustrador e pintor, que faleceu no dia 17 de julho. Nascido Arlindo Rodrigues, em Santos no dia 27 de junho de 1951, iniciou sua carreira por lá mesmo, no suplemento infantil do jornal A Tribuna em 1963. O artista estava morando em São Paulo e, apesar de não esclarecer a causa da morte, seu filho comentou que o pai vinha enfrentando problemas de saúde.

Ainda adolescente, Geandré mudou-se para São Paulo, onde passa a atuar profissionalmente nas revistas das editoras Fittipaldi, Penteado e Prelúdio, pequenas editoras populares que funcionavam nos bairros do Brás e da Mooca. É nesta época que passa a assinar os desenhos como Geandré.

No início da década de 1970 embarcou para a Europa onde trabalhou na Espanha (Barcelona) e Suíça (Zurique), expôs em galerias de arte e foi premiado no Salão de Humor de Berlim. Em 1975 Geandré volta ao Brasil trazendo na bagagem a ideia de criar a revista de cartum Ovelha Negra, que é ele lança em maio de 1976, majoritariamente dedicado ao humor gráfico e baseada no semanário Hermano Lobo, que havia conhecido em Madri.

Conheci o Geandré quando trabalhei no jornal a Tribuna de Santos nos anos 2000 através do Osvaldo Dacosta, que escrevia um livro sobre Ovelha Negra, mais uma perda irreparável pra cultura e pro nosso humor tupiniquim. Vai em paz mestre

Alex Ponciano

A publicação se insere na rica tradição da imprensa alternativa que resistiu a censura e aos desmandos da ditadura e, como tantas outras experiências independentes, acabou fechado pela ditadura após oito números e muitos problemas com a repressão da Polícia Federal. A revista era vendida de mão em mão, em algumas bancas, centros estudantis e pequenas livrarias de São Paulo.

Mas, enquanto durou, a Ovelha Negra foi um espaço importante para os cartunistas manifestarem, através da charge, a insatisfação popular contra a opressão. Com tiragem média de 20 mil exemplares, a publicação reuniu o talento de artistas como Angeli, Laerte, Santiago, Nicolielo, Luscar, Mariza, Nani, Guidacci, Luís Gê, Jaime Leão, Alcy, Canini, Edgar Vasques, Luis Fernando Veríssimo e muitos outros.

Foi um grande praça, um militante, um agitador do cartum. Ele e o Souza Freitas fizeram, diante de tantas dificuldades, um quase milagre que foi o Ovelha Negra, um jornal caseiro semi-artesanal. Tenho orgulho de ter passado por lá e ter sido amigo do Geandré.

Vasqs

Geandré também atuou na imprensa tradicional nos jornais Última Hora, O Dia, Diário Popular, Jornal da Tarde, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e O Pasquim, nas revistas O Cruzeiro, Vogue, IstoÉ, Playboy, Claudia, Nova, MAD, Visão, Status, Senhor, Planeta, Privé. Além disso, o autor também participou do quadro “TV Cartum” no programa Som forma e movimento, da TV Cultura, publicou livros com seus cartuns e realizou várias exposições onde apresentava seus quadros

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Foto de abertura: divulgação/autor desconhecido.