Edibar versus os moralistas de Apucarana

Autor:
Redação

Seção:
Noticiário geral

Publicado em:
22 de Novembro de 2022

Tempo de leitura:
4 minutos

Edibar versus os moralistas de Apucarana

Por: Redação

Lúcio Oliveira (foto), criador das tiras do Edibar, nasceu em Apucarana (PR) em 1973 e começou a trabalhar com desenho em 1986, morou na Inglaterra onde cursou arquitetura, deu aulas de desenho técnico no Sesi e Senac, criou as tiras do Edibar em 2001 a qual é publicada em vários jornais do Brasil e Expõs o personagem em 2016 no XII Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja (Portugal).

O personagem Edibar da Silva é um bêbado escroto, como faz questão de esclarecer o próprio criador. Em entrevista a um blog português o autor explicou a origem do personagem: "Como não tinha muita opção de lazer na minha cidade, o boteco do Maurício era um dos poucos locais que dava para frequentar num sábado à tarde em Apucarana. Tinha de tudo lá… bêbado entrando no bar de cavalo, médico jogando truco com carteiro, mulher raivosa jogando mala de roupa de marido bar adentro. Entre uma cerveja e outra, fui aprendendo a prestar atenção nessas figuras do meu canto no boteco, e o Edibar foi surgindo na cabeça." (1)

Este sucesso deveria ser motivo de orgulho para a cidade de Apucarana, um município de pouco mais de 136 mil habitantes que se localiza distante dos grandes centros culturais, mas não foi isto que ocorreu quando a prefeitura do município escolheu Edibar como garoto propaganda de uma campanha de divulgação da cidade nas mídias eletrônica e impressa. Imediatamente os reclamos moralistas se fizeram presente principalmente a partir da campanha movida pelo vereador Moisés Tavares Domingos, do Cidadania e mobilizou a imprensa local (no destaque uma das peças produzidas para a campanha).

O contrato de parceria, firmado com a empresa do autor em meados de outubro, foi objeto de debate na câmara municipal, acusado de prejudicar a imagem da cidade e até de  atrapalhar o trabalho de recuperação de alcoólatras. Após a repercussão da campanha contrária ao personagem a Prefeitura rescindiu o contrato no mês seguinte. Segundo as partes a rescisão se deu de maneira amigável.

Repercussão entre os chargistas

Bira Dantas, em depoimento enviado a Pirralha, afirma que a decisão da prefeitura foi equivocada.

Edibar, pode ou não ser usado como garoto-propaganda de Apucarana? Na minha opinião é claro que sim. Faço parte da AQC (Associação de Qudrinhistas e Caricaturistas de SP) desde 1984 e nunca tinha visto a tentativa de se censurar um personagem de TIRAS por ser quem é: alguém imperfeito como milhões  de outros seres iguaizinhos a ele. Gostaria de lembrar que Edibar, criado por Lúcio Oliveira, é personagem cômico de QUADRINHOS. Um personagem fictício, irônico, politicamente incorreto, extremamente engraçado e popular (no Brasil e em Portugal), homenageado com exposição em Beja, um dos mais importantes festivais europeus de BD - como eles chamam HQ- o que mostra seu alcance internacional. Isso tudo se deve à genialidade de seu criador e deveríamos ter orgulho disso. Só pra lembrar outro personagem beberrão: o inglês Andy Capp (Zé do Boné no Brasil) um malandro encostado na mulher Flô, com sua inseparável boina, que bebe, fuma, joga, vê futebol e Flô tem que aturar o imprestável. Esta é a realidade de milhares de lares pelo mundo. Na Inglaterra e aqui.

Lucio Oliveira fez a mesma coisa nos Quadrinhos: apenas retratou esta situação que é deplorável de forma cômica e irônica. Assim como Reg Smythe (Zé do Boné) e Bob Weber (Moose), os três quadrinhistas mostram famílias onde as mulheres trabalham para sustentar maridos preguiçosos.

Desde 2001as tiras do Edibar o popularizaram na internet e nunca vi ninguém dizer que suas piadas prejudicassem membros de programas de recuperação de alcoólicos ou fortalecessem casos de machismo e misoginia.

Pra mim isso soa como o discurso de Wertham e do Mccarthismo nos EUA que durante a década de 60 usou discurso moralista (dito conservador) para censurar os Comics. O psiquiatra Fredric Wertham manipulou dados para afirmar que os Comics levavam jovens a praticar crimes no livro A Sedução do Inocente. O senador norte-americano Joseph McCarthy criou uma narrativa hipócrita e falsamente moralista, uma paranoia truculenta que levou à criação do Código de Ética para censurar os Quadrinhos, o Comics Code Authority (“Autoridade do Código dos Quadrinhos”), uma espécie de órgão autorregulatório das próprias editoras para censura prévia.

Todo discurso anti-Edibar tem este cheiro rançoso e hipócrita que há quatro anos vem se espalhando pelo país. Me espanta ver feministas assinando embaixo dessas teses.

Em relação às tiras do Edibar cito um personagem de grande sucesso no sul, Radici, do Iotti, boneco bebarrão, preguiçoso, só a mulher trabalha. Um completo anti herói - devemos dizer q anti heróis são educativos pois mostram o anti exemplo.Temos também Boogie el Aceitoso, personagem do genial Fontanarrosa, agente assassino da CIA. Muito engraçado pelo cinismo dos crápulas.

Santiago

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Imagem de abertura: montagem com o personagem Edibar sobre foto de RBueno 96 (Wikmedia) da Catedral Nossa Senhora de Lourdes localizada na Praça Rui Barbosa em Apucarana.

(1) Entrevista de Lúcio Oliveira : https://texwillerblog.com/lucio-oliveira-criador-de-edibar-e-as-homenagens-a-tex/