Autor:
Guto Camargo
Seção:
Desenhistas
Publicado em:
19 de Junho de 2023
Tempo de leitura:
4 minutos
Romita com a arte de Amazing Spider-Man 109, que ele considera uma de suas melhores capas (foto redes sociais do artista)
O Aranha e as mulheres de John Romita
Por: Guto Camargo
Um dos mais importantes artistas dos quadrinhos Marvel, John Romita, famoso pelo trabalho desenvolvido nas histórias do Homem-Aranha morreu aos 93 anos no dia 13 de junho, a notícia foi dada pelo seu filho, o também desenhista de quadrinhos John Romita Jr.. Romita foi, depois de Stan Lee, nos roteiros, Jack Kirby e Steve Ditko, nos desenhos, um dos grandes responsáveis pela consolidação do "método Marvel" de ilustração baseado em desenhos com uma forte linguagem corporal e enquadramentos que privilegiam sempre a ação e o movimento dos personagens. Sua importância no processo criativo dos gibis pode ser atestada pelo fato de ter assumiu o cargo de diretor de arte da Marvel em 1972, Ele se aposentou em 1996 mas continuou colaborando com projetos especiais para a editora e chegou até a fazer uma capa para o Superman da concorrente DC.
John Romita Sr. foi um pilar do Universo Marvel. Como artista e diretor de arte, seu talento definiu décadas da narrativa mais conhecida da Marvel, abrangendo centenas de quadrinhos inesquecíveis que trouxeram agora personagens icônicos como Wolverine , Viúva Negra , Justiceiro , Rei do Crime , Luke Cage , Homem-Aranha e Mary Jane (Texto publicado no site da Marvel)
O caminho para a fama no mundo dos quadrinhos se abriu para o artista em 1966 a partir do número 39 quando substituiu Steve Ditko (responsável ao lado de Stan Lee pela criação do Homem-Aranha) e passou a ser o desenhista oficial da revista. Anteriormente ele desenhava o Demolidor e não queria assumir a nova incumbência pois achava que o desentendimento entre Stan Lee e Ditko seria passageiro e o artista reassumiria a revista . Mas sua história nos quadrinhos começa bem antes disto, nascido no Brooklyn, Nova York, em 1930, Romita se formou na Escola de Arte Industrial de Manhattan aos 17 anos e começou a carreira como quadrinhista em 1953 na Atlas Comics, que viria a se tornar a Marvel. Na editora fez um pouco de tudo, do terror ao romance passando pelo faroeste, ingressou na DC Comics e depois voltou para a Marvel.
As belas nas HQs
Apesar de ter seu trabalho ligado aos diversos super-heróis da Marvel, com destaque para o Homem-Aranha que desenhou tanto para os gibis quanto para as tiras dos jornais, seu traço também chamava a atenção pelas mulheres que, de coadjuvantes do herói, passaram a disputar a atenção do leitor e ganharam destaque nas tramas. A maestria no desenho de mulheres foi aperfeiçoado na DC Comics quando era artista da linha de publicações femininas da editora onde ficou por cerca de oito anos (ao lado uma página romântica desenhada para a DC). Romita saiu da DC quando a linha de gibis românticos foi fechada e voltou para a Marvel: "Eu estava pronto pras personagens femininas. Isso sem sombra de dúvida carimbou toda a minha fase no Homem-Aranha: as personagens femininas", declarou. (*)
"John Romita era incrível, além de uma arte maravilhosamente dinâmica desenhou as melhores Mary Jane e Gween Stacy."
Bira Dantas, chargista.
As mulheres desenhadas por John Romita não só eram bonitas como estavam sempre elegantemente trajadas. O desenhista afirma que Stan Lee deixava sobre sua mesa de trabalho várias publicações de moda para serem usadas como referências mas ele nunca encontrava um estilo que o agradasse nas revistas e acabava inventando os trajes. Romita se divertia ao ouvir elogios sobre seus conhecimentos de moda; "Ninguém imaginava o quanto eu estava por fora" e, sim, havia uma competição no quesito moda entre Mary Jane e Gwen Stacy.
O surgimento de Mary Jane foi preparado por meses (aliás, desde quando o desenhista ainda era o Steve Ditko); ela era sobrinha da Sra Watson, vizinha de Peter Parker, sempre citada em conversas de família mas que nunca aparecia nos quadrinhos, o que causou um certo problema na hora de definir seu visual. Romita afirma que Stan Lee tinha dúvidas se ela deveria ser uma mulher normal ou uma garota linda e que a decisão final foi sua; criar uma ruiva de olhos verdes e aspecto sensual. A personagem foi sendo desenvolvida não sem certa discórdia entre roteirista e desenhista até que Romita ganhou a parada e teve carta branca para fazer do seu jeito. Assim Mary Jane era a maluquinha da turma enquanto Gwen era uma aluna séria, na definição de Romita, uma dama.
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(*) As declarações de John Romita para este texto foram extraídas do livro O legado Romita, de Tom Spurgeon, publicado pela editora Mythos.
Mais informações sobre a carreira do artista podem ser obtidas nesta entrevista ao The Comics Journal (em inglês) - AQUI